Das encostas ao abissal
Viajo em pensamentos na imensidão do espaço.
Ultrapasso fronteiras, quebro barreiras.
Transporto-me as encostas do mar, aos rochedos, as pedras onde ondas lambem e conchas grudam.
O cheiro do mar me seduz, as ondas me namoram.
Devia ter nascido sereia para encantar quem chegasse até meu mundo e ouvisse meu canto, ou peixe, simples peixe com barbatanas leves e ligeiras.
Quem sabe ostra, escondida até que a luz me inundasse e me cobrisse de águas marinhas. Ou talvez eu fosse o sal que tempera as águas e dentro desse imenso mundo líquido tivesse a função de ser invisível e marcante. Ou seria apenas areia, incontáveis e pequenos grãos de areia que cobrem as praias.
Mas nasci longe de ser qualquer uma dessas coisas ou seres e me espremo nesse vasto mundo onde a terra às vezes machuca meus pés e as estradas sempre me convidam a ir mais além. E vou, e enquanto meus sentidos não se deparam com o cristal das águas e o marulhar das ondas eu não me encontro em completa paz.
O vento por vezes é meu companheiro, não quando sopra muito forte, mas quando é manso e sereno, esse, traz até minhas entranhas vestígios de um mundo maior e sinto seu cheiro desde a orla até os abissais.
Meu ser vive disso, dessa espera dolente, desse pulsar de coração aflito, desse latejar de veias que se dissipa quando o sol com seus raios me empurra para o mundo imenso que chamam oceano.
Lou Witt