terça-feira, 29 de março de 2011

Razões

Se um dia sentir falta do mar me avise.
Pode simplesmente, escrever em mal traçadas linhas, avisar por um bilhete, carta, e-mail ou até mesmo por sinais de fumaça.
O faça, dizendo quando vai chegar, porque se juízo tiver pequenas regras haverá de observar....

Primeiro recomendo se aproximar percuciente e paciente como quem nada quer.... Guarde certa distancia, pois se a primeira vista se mostre ele calmo a semelhança de algumas poças ou lagos, certamente e de repente pode se retratar em louco dragão fazendo tudo remexer a sua volta, cuspindo ondas enfurecidas, rugindo loas as rajadas de sotavento.
Mas essas repentinas mudanças jamais lhe alteram o conteúdo, visto que é por demais sabido que ele, tanto como nós, temos no íntimo luas mutantes que no fundo não passam de "boa areia" porque suas mudanças são apenas passos de dança.

Segundo, aconselho que ao chegar a sua beira deixe que ele recubra lentamente os pés, depois as pernas, coxas, cintura, seios e por fim alcance o pescoço, cuidando sempre de não lhe entregar de vez os cabelos porque se confundidos a algas por certo hão de lhe gerar alguns ciúmes. Assim, de preferência prenda-os em forma de coque.

Terceiro, tente mergulhar; mas para tanto. Tente imitar os cisnes que perfurando o espelho que lhes envolve nada mais cria de redemoinhos a sua volta sem afetar a doce visão do fundo onde pontilham estrelas caídas de confundíveis formas e cores.

Quarto. Ao emergir tome por forma e princípio o agir das gaivotas de alto mar, sinta ao seu redor, quer em carneiros tocados pelo vento, quer em estado de profunda calmaria toda a imensidão que sustenta o balet de seu corpo quase frágil diante da imaginária linha do horizonte e se deixe levar por alguns minutos em correntes de nuvens de um sonho qualquer.

Quinto. Já na areia cuida para que em atos disfarçados não descubram de logo, se algum observador houver que a retornada princesa se transformou em sereia, visto que elas realmente existem diante do constatado por Netuno e afirmado por Homero.

Sexto. Não tal qual Ulisses temente, deixe que todos ouçam os cantos porque não é justo lançarem as rocas criaturas que só aos deuses pertencem....

Veleiro. Lua Navegador


terça-feira, 1 de março de 2011